A CASA (Tiago Villano)



A Casa

Em um dia qualquer, aproximo-me e vejo: a casa está vazia. Dou alguns passos - silêncio (...) Alguns segundos depois, breves relâmpagos e uma leve chuva. Sinto um pouco de frio. Encontro uma garrafa de vinho meio aberta - aqueço-me. Ouço, por instantes, passos na escada – sombras? Não, apenas estalos da madeira. Caminho até o jardim e comtemplo o regar do céus. Um leve arrepio me espanta - angústia. E recordo-me do que um velho mestre havia me ensinado: “A angústia é uma estranha e desconfortável visitação, ela aparece sem ser convidada. Deve-se ficar com ela, recebê-la e ouvi-la no seu chamado”.

Aceito então o estreitamento no peito e não fujo nem me distraio. Então, o desvanescer dos sentidos - vazio. Alguns minutos depois e ela vai embora - serenidade.

Uma clareza me convoca à estranhos pensamentos. Devo aceitar minha responsabilidade, minha solidão - o eterno vir a ser, e a condição de finitude. Assim o homem se torna livre. Luzes e pequenos flashes ofuscam meus olhos: fluidez, instabilidade e mesmo a ausência de respostas deixam de ser opressores para mim -agora a abertura para a vida plena.

Se o ser humano não é pronto e determinado - ele pode se determinar. Está destinado a isso mas, se não aguenta o peso da culpabilidade e da solidão – foge. Para onde? Para o conforto da massa, para a alienação da multidão.

Se a vida parece absurda e sem sentido, o ser humano pode para ele construir um sentido. Se a vida não oferece certezas, oferece infinitas possibilidades. Está na hora. É preciso escolher a si mesmo, é preciso decidir me encontrar, me conquistar, fazer minhas próprias escolhas, correr meus próprios riscos, encontrar amparo e segurança em mim mesmo, conhecer-me em profundidade, assumir total responsabilidade pela minha própria existência. Volto a lembra-me de meu mestre: - "A angústa meu querido, é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faz o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda"... (Tiago Villano)

2 comentários:

  1. Tiago:

    meus parabéns.seus textos são verdadeiros, fortes,mas corretos.
    Li nossa gaveta interna e achei-o,maravilhoso.
    esse acima também é muito real.faz parte de nossas vidas.

    zé Luiz

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  2. É fascinante como seus textos nos envolve!Ainda continuo sem palavras para descrevê-lo talvez seja porque nem precisa,faz isso por si só,é de uma naturalidade inexplicavel.Até mais!

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