Jean-Yves Leloup

Há muitos que falam ou sonham de amor, mas poucos que atravessam a porta e começam realmente a amar.
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São os solitários e aqueles que se tornaram simples que entrarão na câmara nupcial, pois – através da unidade que eles realizaram, da solidão que eles aceitaram – eles tornaram-se capazes de encontrar o outro enquanto outro, sem reduzi-lo a suas carências e aos seus desejos. Apenas eles sabem realmente o que são as bodas.

A comunhão dos solitários é o fundo do poço que une-se ao fundo do outro poço, enquanto suas margens mantém-se distantes. “União sem confusão, sem separação” – união das pessoas na sua profundeza ou sua plenitude.

Também poderíamos ouvir o fato de que muitos estão diante da porta do Reino... mas que apenas aqueles que foram até o âmago da sua solidão, que se simplificaram até chegarem à Transparência pacífica do Ser essencial e do Ser existencial, conhecem as Bodas do Criado e do Incriado, União verdadeira “sem confusão – sem separação” entre Deus e o homem.

Velejar... (Tiago Villano)


Em águas límpidas viajo... estou velejando sem destino...
O vento e as gaivotas assopram o caminho...
Fico a pestanejar num devaneio sem fim...
Não tenho intenções, nem convicções...
Tenho apenas a mim mesmo!
E empresto minha solidão aos passageiros solidários...
Em serenidade aguardo o apito dos céus...
Onde essa imensidão sagrada toca meus sentidos...
Atentamente contemplo o asceno do horizonte,
A convocação do nada onde os tripulantes virão de longe
Logo o dia descansará para noite chegar...
Relembrando a fonte misteriosa e os enigmas da existência...
Ressoando o fugor da morte... que logo irá tragar
As memórias daqueles que souberam esperar...
Estou velejando sem destino...
Sinto apenas o vento, vejo apenas as estrelas e o negro abismo em torno delas...
Vaga-lumes me acompanham na estada do incerto...
Celebrando a instabilidade organizada onde o caos apronta seu ninho...
Acarinhando seus futuros ovos com alento e carinho...

Um poema de Pasolini

Pier Paolo Pasolini
Ao Príncipe
Se regressa o sol, se cai a tarde,
Se a noite tem um sabor de noites futuras,
Se um sono de chuva parece regressar
De tempos demasiado amados e jamais possuídos de todo,
Já não encontro felicidade nem em gozar o sofrer por si mesmo:
Já não sinto diante de mim toda a vida...
Para ser poeta há que ter muito tempo:
Horas e horas de solidão são o único modo
Para que se crie algo, que é força, abandono,
Vício, liberdade, para dar estilo ao caos.
Eu, agora, tenho pouco tempo: por culpa da morte
Que me vem em cima, no ocaso da juventude.
Porém por culpa também do nosso mundo humano
Que rouba o pão dos pobres e dos poetas da paz.

Diversidade (Tiago Villano)


Por que pessoas apenas enxergam as coisas de um ponto de vista? e se tornam tendenciosas, preconceituosas e extremistas? Porque possuem uma precária constituição existencial onde são limitadas em dar sentido as coisas, ao mundo e a vida. Quando querem refletir, refletem sobre o mesmo prisma e precisam que outros o apóiem e sirvam de espelho (está vendo? não penso sozinho! tem gente igual a mim)
Assim, infelizmente, se tornam-se engessadas e restritas diante de todas as possibilidades de sentido. Qualquer estrutura que seja ameaçada - gera angústia, insegurança, medo, solidão extrema e ansiedade agúda. Precisam de uma garantia para assegurarem sua precária estrutura existencial. Querem ser igual, aceitam apenas a quem tudo obedece e não suportam a variedade de culturas e modos de viver. E o mundo? O mundo continua mundo... nada muda para eles... tudo permanece o mesmo.

Separação, o fim de um relacionamento (Tiago Villano)



É extremamente complexo analisarmos todas as questões que envolvem uma separação mas, poderemos agora numa breve tentativa analisarmos algumas variáveis significativas do ponto de vista existencial.

O fim de um relacionamento é sempre muito doloroso e o processo de adaptação pode durar pouco tempo ou muito tempo, dependendo da constituição interna de cada pessoa.

De fato, a maioria das pessoas tendem a viver a separação como uma traição (muito embora ela possa não ter ocorrido). Em outras palavras, uma sacanagem do parceiro ou da vida. Os homens, podem demonstrar uma certa facilidade em lidar com a rejeição, no caso das mulheres ou elas chegam ao seu limite e tomam a decisão ou sofrem muito com as conseqüências de uma separação. O ponto é que muitas vezes, aqueles que sofrem a perda da pessoa amada (ou não) podem se instalar numa dúvida radical sobre eles mesmos. Além do que, preste atenção: O casamento pode ser usado como uma ferramenta que nos permite acusar alguém de nossa própria preguiça. Ou seja, se sou covarde ou tenho medo, posso dizer que desisto de meus desejos e aspirações por causa de minha parceira(o).

É comum que antes da separação a relação já esteja abalada (embora não seja regra). Prefiro acreditar que sempre é possível atravessar esse momento sem essa atitude radical, pois creio que exista (nem que seja uma fagulha) a possibilidade de ambos se transformarem nesse processo de crise, mas isso exigirá que pelo menos um dos cônjuges tenha um certo grau de maturidade.

Mas, convenhamos. Existe uma decadência inerente dos sentimentos do namoro e o casal pode se instalar numa inércia desgastante. Resultado: sempre acabamos enxergando as falhas um do outro. Além precisamos deixar de idealizar a duração de uma casal (até que a morte nos separe, amor para a vida inteira, etc). Por que? Porque podemos deixar de perceber separações que podem ser necessárias, em um processo de sofrimento eterno. Existe uma frase que nos mostra bem o que quero dizer: "... é preciso acabar com um casamento, antes que casamento acabe com você." Em alguns casos, isso é verdadeiro.

Mas, voltemos à experiência. Muitos podem se colocar em dúvida diante do mundo do tipo: Será que eu sou agradável para alguém? Será que um dia serei verdadeiramente amada(o)? A sensação de rejeição é uma experiência que pode ameaçar o que seria, já de antemão, uma precária certeza de ser aceita no mundo, uma experiência "cataclísmica", que de fato corrói todo seu ser.

As relações ditas saudáveis são aquelas onde há o respeito à pessoa. Onde não se é complacente com os defeitos do outro, onde não se procura mudar os defeitos do outro a todo custo, mas sim, se lida-se de forma leve, com tolerância e bom humor (afinal na maioria dos casos, já conhecemos a pessoa com esses defeitos). Amar é saber que o outro não esta aqui para suprir com todas as nossas expectativas e necessidades.

Infelizmente, em nossa cultura parece que todo mundo tem que aprender a se separar, só que em contra partida esquecemos que antes, devevemos aprender principalmente a se relacionar. Na maioria dos casos, percebe-se a incapacidade de se relacionar por parte de pelo menos um dos cônjuges. Ele aprende a se separar mas não (re) inventa a arte de se relacionar.

Vamos prestar atenção em discursos como: - Não conseguirei viver sem ele(a)! Não conseguirei ficar sozinha(o). Como ele(a) seguirá sua vida sem mim?". Logo, poderá vir o auto-deprezo, o sentimento de pena de si mesmo etc.

Em muitos casos, a dor sentida não se trata de amor, mas de orgulho ferido - um golpe em nossa vaidade e narcisismo, em nossa auto-afirmação: - "Como pude ser rejeitada(o), deixada(o)? Logo eu?"

O mais conflituoso de tudo serão as dúvidas sobre si mesmo que a pessoa poderá se aplacar ou seja, o que a pessoa pensará dela mesma, o juízo que terá de si. Seu amor-próprio cairá em suspenso e a angústia poderá dominar e paralisar sua vida. No fundo poderá se questionar: - "Eu me iludi achando que era importante. Como eu achei que poderia ser tão importante e agora ele(a) me deixa? Por que?

O sofrimento advém de um sentimento básico de abandono que se reflete na falta de recursos internos para lidar com a solidão, seduzindo-se com sentimentos de auto-valor e auto-importância. A pessoa se via até então como "especial" para o outro, quando na realidade o que fez foi comprar uma idéia errada de si e do companheiro que escolheu. Talvez tenha inventado seu parceiro a seu bel prazer, a seu próprio gosto e egoicamente que o outro precisava dele para sobreviver.

Logo depois do fim, a pessoa poderá nutrir sentimentos de vingança - esses derivados da sensação de ressarcimento pela perda envolvida ou mal que achou que sofreu sem merecer. Em relações doentias o que está em jogo é a junção de duas neuroses que necessitam de si para se alimentar. Nesses casos, a dificuldade em romper é maior ainda, porque a sensação escancarada é a de que - um não conseguirá sobreviver sem o outro - pois ambos precisam de si para se exorcisarem.

Por fim, depois de um tempo (que varia de acordo com cada pessoa) muitas lições poderão ser tiradas. A pessoa aprenderá que estar sozinho não significa estar abandonado. Talvez ela não tenha se dado conta de que mesmo casada já se encontrava sozinha. O que não havia era a cumplicidade de ambos compartilharem as duas solidões. Verá no processo que nada é para sempre. Que deve estar sempre preparada para as mudanças. Verá que não poderá mais se anular em detrimento do outro. Não esperará calada que o companheiro(a) descubra suas vontades, gostos e desejos sem verbalizá-los. Tudo mais tarde se transformará em um processo de amadurecimento para quem conseguir tirar as lições de todo esse sofrimento.

Amar alguém é se encantar com o jeito de ser da outra pessoa. É reconhecer que cada um possui outras urgências na vida e que um não pode girar em torno do outro. É aprender a amar, não porque ele corresponde aos nossos desejos, mas porque pode confiar, se doar, se apoiar quando necessário. É saber que o outro está conosco porque é livre, e escolheu espontaneamente estar ao nosso lado. É percebermos que não há garantias, nem certezas absolutas, mas que vale a pena. Em muitos casos, aquela sensação inexplicável de uma enamoramento também vem na hora de perceber, que o casamento já terminou faz tempo.

Desvios (Tiago Villano)



Infelizmente, o homem se tornou a medida de todas as coisas. Tudo o que existe hoje foi criado pelo próprio homem. Ele humanizou Deus e endeusou seus altares de madeira e cimento. Se diz senhor de tudo e subjulga todos os seres, criando regras e leis arbitrárias segundo sua própria necessidade mercadológica, narcisista e moralista.

Se tornou o senhor dos mestres mas, disfarça sua insegurança e fragilizade absoluta, através dos manuais de educação, de comportamento, de etiqueta e de como viver a vida. Como ele não tem como assegurar e garantir esse "como viver" acaba por construir para si discípulos, onde pode então, usufruir do seu máximo gozo; o poder! Assim, diz para si mesmo: - "Eles precisam de mim"! Os escravos, por sua vez, dizem: - "Eu preciso dele! E um dia gostaria de ser como ele"! Acabam então, não se importando em vender seu direito de escolha por uma promessa futura. Permitem serem "apedrejados", pois no fundo, querem ser também idolatrados. A parte: O preço que se pagamos em abrir mão da confiança básica para viver, amparando-se em normas e manuais de conduta sobre a vida - além de deixarem que outros decidam a vida por você - é o de carregar um eterno sentimento de culpabilidade, juatmente porque estaremos sempre em débito com nós mesmos.

Meu Deus, até quando debaixo das pontes ficará escondido a essências das águas límpidas da liberdade? Até quando ficará submerso sob o asfalto e sol escaldante o poder da Terra e de toda a vida que foi esquecida? Nossas construções materiais são como fogos de artifício e maravilham aqueles que acreditam que a Avenida Paulista é um clone do Jardim do Éden. Máquinas, virtualidade e tecnologia abafam as maravilhas do que o homem não é capaz de produzir: Natureza, silêncio e vida. Tudo está aculto, escondemos o céu sob os prédios, escondemos a terra sob nossas construções e deixamos de ver o mar, na busca desenfreada apenas por petróleo. E o homem metafísico dá risada, embriaga-se com seus estudos sobre a bolsa de valores, enquanto suas esposas cansadas da falta de atenção - deitam-se na cama de seus inimigos, enquanto seus filhos cansados da falta de amor, abrigam seus corpos em drogas. Até quando meu Deus, nós seremos cegos para a real necessidade do espírito?

Eu mesmo me perco e busco em silêncio ouvir um sopro do sagrado. Ilumine-me e abeçoe seus filhos para que possamos ajudar aqueles que nos pedem socorro. Hoje, mesmo assim, criando artefatos de segurança - chego a pensar que os loucos - andarilhos da verdade - são hoje os mais lúcidos dentre a Terra - sua loucura é uma defesa em face ao estupro que a verdade traz aos seus olhos.

Iniciei o texto com um quadro (o Semeador) de Van Gogh e agora, termino com suas palavras - as palavras de um ser humano que foi chamado de louco. Um louco maravilhosamente lúcido.


Quem não é senhor do próprio pensamento não é senhor de suas ações (...) Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar (...) O amor é eterno - a sua manifestação pode modificar-se, mas nunca a sua essência... através do amor vemos as coisas com mais tranqüilidade, e somente com essa tranqüilidade um trabalho pode ser bem sucedido (Van Gogh)


Serenidade diante do caos - SHALOM




Wakan Tanka - Grande Mistério


Ensine-me a confiar em meu coração, em minha mente, em minha intuição, em minha sabedoria interna, nos sentidos de meu corpo, nas bênçãos do meu espírito. Ensine-me a confiar nestas coisas, para que possa entrar em meu Espaço Sagrado e amar além do meu medo, e assim Caminhar com Beleza, com a passagem de cada Sol glorioso. De acordo com o Povo Nativo, o Espaço Sagrado é o espaço entre a exalação e a inspiração. Caminhar em com Beleza é ter o Céu (espiritualidade) e a Terra (físico) em Harmonia.


(enviado por Zé Luís)

Outra de Clarice



Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? Eu adoro voar!


Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre. (Clarice Lispector - enviado por Zé Luís)

Clarice



Eu sou um ser totalmente passional. Sou movida pela emoção, pela paixão. Tenho meus desatinos. Detesto coisas mais ou menos... Não sei conviver com pessoas mais ou menos... Não sei amar mais ou menos... Não me entrego de forma mais ou menos... Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo... ESQUEÇA-ME!

Se você sabe conviver com pessoas intempestivas, emotivas, vulneráveis, amáveis, que explodem na emoção... ACOLHA-ME!

Se você se assusta com esse meu jeito de ser... AFASTE-SE!

Se você quiser me conhecer melhor... APROXIME-SE!

Se você não gosta de mim, IGNORE-ME!

E quando eu partir.....NÃO CHORE! (Clarice Lispector)