Pensamento


O pensamento meditante exige de nós que não nos fixemos sobre um só aspecto das coisas, que não sejamos prisioneiros de uma representação, que não nos lancemos dentro de uma única via, dentro de uma só direção. O pensamento meditante exige de nós que aceitemos nos deter sobre as coisas que à primeira vista parecem irreconciliáveis (Heidegger)

O homem...


(...) o homem é essencialmente necessitado de ajuda, por estar sempre em perigo de se perder, de não conseguir lidar consigo. Este perigo é ligado à liberdade do homem. Toda questão do poder-ser-doente está ligada à imperfeição de sua essência. Toda a doença é uma perda de liberdade, uma limitação da possibilidade de viver. (Heidegger)

Tão bom morrer de amor e continuar vivendo (Mario Quintana)

Reintegração Pessoal


O indívíduo consegue tomar consciência de que só poderá realizar-se dizendo adeus ao próprio passado. Nesse momento, o sujeito tem condições de escolher o rumo de sua própria existência. Entende de uma vez por todas que não é possível viver quando se tem medo de morrer (E. Giusti)

Filhos


Seus filhos não são seus filhos. Eles não vêm de vocês, mas através de vocês. Vocês podem amá-los, mas não obrigá-los a pensar da mesma maneira que vocês, pois eles têm seus próprios pensamentos. Vocês podem cuidar de seus corpos, ams não de suas almas, pois elas moram em casas futuras que nem em sonho vocês podem visitar. Vocês tentarão imitá-los, mas não poderão torná-los semelhantes a vocês, pois a vida segue adiante, e não se demora no passado. (Khalil Gibran)

Distância...


Não é na maneira como uma alma se aproxima da outra, mas na maneira como se afasta, que reconheço seu parentesco e afinidade com a outra (Nietszche)

(...)


Quando nos sentimos existindo, em confronto solitário com a nossa própria existência, sem a familiaridade do cotidiano e a proteção das formas habituais da linguagem, quando percebemos ainda a irremediável contingência, ameaçada pelo Nada, dessa existência, é que estamos sob o domínio da angústia, sentimento específico e raro, que nos dá uma compreensão preliminar do Ser.

A angústia nos desnuda, reduzindo-nos àquilo que somos: consciências indigentes, com a maldição e o privilégio que a liberdade nos dá. No extremo de nossas possibilidades, ao qual esse sentimento nos transporta, ela intensifica a grandeza e a miséria do homem. Da liberdade que engrandece, e que nos torna responsáveis de um modo absoluto, deriva a razão de nossa miséria. Vivemos, afinal, num mundo puramente humano, onde a consciência é a única realidade transcendente (Benedito Nunes)

Encontro (T.V)


É noite de sábado. Ele acabara de preparar o jantar. Costumava jantar sozinho há anos. Colocava em sua mesa sempre dois pratos. Um para ele e outro para sua mulher, já falecida. Desde seu funeral, sua vida começou a declinar. Perdera amigos, familiares. Ninguém conseguia permanecer ao seu lado por muito tempo. Se fechara em um mundo próprio e desiludido passou a desenvolver hábitos estranhos. Hábitos noturnos. Todas as noites, às 3h da manhã acordava. Dizia que sempre ás 3h (horário em que sua esposa morreu) ela o visitava pela janela de seu quarto. Ouvia barulhos, via vultos. Conversava consigo mesmo, e quando conversava com ela, era com ele mesmo também, um resquício de sua mulher. Tudo falava de uma solidão sombria e intensa. Dizia que atrás das árvores nos fundos da casa, conseguia observar sua esposa acenar em meio ao bosque. Sempre vestida de branco e com os pés descalsos. Ela o convidava para o outro lado. Ele, sempre foi cético. Mas agora desejava iniciar sua entrada ao mundo desconhecido do sono sem volta. Terminara seu jantar. Se banhou e vestiu uma linda roupa. Perfumou-se e constantemente sorria olhando para os céus. Subindo as escadas do último andar, viu o vulto de sua mulher brevemente pela fresta da janela. Ele jamais pensara que o fluxo da vida era o devir. Que tudo flui e nada permance. As estações da natureza, as árvores, as plantas e os animais nos ensinam as etapas da vida. Mas ele nunca prestara a devida atenção. Se acomodou em uma ilusão, em um sonho, onde fizera de sua mulher seu porto seguro. Com ela, o mundo podia desabar que ele continuava seguro de si. Depois de sua morte, perdeu-se de si, confundiu-se com a noite, tropeçava em sombras e não ordenava mais seus pensamentos. Sua chama já não lhe servia para viver os dias. Subiu ao último andar de sua casa, pela sacada subiu aos telhados. Para ele, aqueles eram os telhados do mundo. Contemplou a noite, beijou o infinito... e num ímpeto de desejo e lucidez, se jogou para os braços da morte... crendo que seria para os braços de sua amada...

Esquecimentos


Era manhã, o sol batia em sua janela. Forte como o rei dos astros, sentia o frescor da brisa e o calor escaldante da vida, bronzeada pela luz de mais um dia que nascia. O cheiro forte de café vindo da sala de estar, o vento, o sol e aquele momento o fazia regressar a um tempo passado, onde ele criança, brincava a beira do lago junto a sua melhor amiga da infância. Brincavam e riam como se não houvesse futuro para se preocupar, nem passado para se questionar. Não perguntavam o porque da vida, de onde vieram, para onde iriam. Sempre de hora em hora, os olhos da mãe percorriam os caminhos das crianças, em alguns momentos no campo, em outros no lago, e mais tarde se brincando com as poucas ovelhas que ali viviam. Assegurava-se assim, de que nenhum perigo os ameaçava. Lembrava-se da época onde tudo parecia atemporal. Sentia sua infância como uma época que parecia não fazer parte desta vida. Hoje cansado, cheio de responsabilidades. Mas, eram férias e podia permanecer nessa nostalgia por mais algumas horas. Fazia do ócio um lugar de acontecimento. Não havia tédio nem angústia. Ria sozinho ao ver nitidamente o rosto daquela menina e a sua vida num piscar de olhos. Os banhos de rio, os brinquedos sempre improvisados com algum apetrecho que a natureza os concedia. As risadas e os beijos inocentes roubados em intervalos de muita alegria seguidos de um leve rubor.
Em um determinado momento: sentiu em seu coração um aperto. Não era um aperto comum. Ele há muito havia pagado essas lembranças de sua mente, e naquele momento tudo veio nitidamente à frente dos seus olhos. Como um véu que soprado pelo vento revelara as memórias de um tempo que gostaria de lembrar mas, também esquecer. O aperto aumentara, e sem intenção a cena renascia e um som de explosão que retumbava no fundo de seu peito. Naquela manhã ele não veria mais sua amiga. Aquela menina, linda como o mar e branca como a lua, haveria de mais tarde sofrer as intemperanças do destino. Na volta de sua viagem à cidade, uma carreta desgovernada acertara o carro de seu pai, não deixando sobreviventes. Não conseguia crer como criança, que pudesse existir a finitude, não conhecia a canção do adeus. E agora, a morte entrara em sua infância estuprando sua inocência, sua alegria e suas noites. Desde então, ele perdera seu sono, quando as luzes se apagavam era tomado de um pavor seguido de um terror noturno descomedido. Não lembrava de seus gemidos, mas, acordava sempre de manhã aos braços da mãe. Então sabia que tivera mais uma daquelas noites. Com o passar do tempo, ele foi esquecendo sua amiga, tudo era deixado de lado, forçosamente como um cego que precisando viver, enxerga dentro de si seu universo particular. Muitos e muitos anos depois, agora o tempo acendia novamente a luz, trazendo a tona às lembranças de pureza e a foto profana que havia visto no jornal, do carro carbonizado. Silêncio...
Levantou, tomou um gole de água, lavando seu rosto em seguida. Tentara acalmar seu coração. Desceu as escadas, seus olhos estavam vermelhos, seu corpo duro e suas mão trêmulas. Apanhou uma xícara de café e um pedaço de bolo amanhecido. Sua esposa estava no jardim e quando escutou barulhos na copa, se dirigiu até seu homem. Percebeu que havia algo estranho. Quando ele a avistou, viu por instantes o rosto de sua menina, sua velha amiga fantasma. Uma paz repentinamente o invadiu tomando conta de suas dores e resguardando sua tristeza. Olhou mais um pouco para ela, sorriu e disse: - Eu já te falei hoje que te amo? Havia muito que não se olhavam direito, nem trocavam carícias. As tarefas da vida e os entulhos acumulados do passado haviam o distanciado de sua mulher. Ela por resignação estava por anos acomodada numa melancolia disfarçada, de quem no fundo sabia que havia perdido seu homem. Ele havia esquecido e deixara adormecer um amor que nasceu do sem-explicação. Ele continuava a olhá-la, e sua mulher percebeu que havia algo incomum. Seria seu marido retornando do sono? Seria ele voltando a ser a velha pessoa de sempre?
Levantou, abraçou sua mulher e em seus ouvidos murmurou: - Agora seu porque me apaixonei por você! Voltei meu amor! Não descuidarei mais de mim, nem de você! Beijaram-se e correram as pressas para fazer amor... Beijaram-se de amor e de saudade. De um amor que escondendo-se, resolvera ser achado, reencontrado. O que se esconde, deseja ser encontrado. Todo o fulgor do tempo não fazia mais sentido. Envelhecidos voltaram a se amar. O frescor da juventude se instalou e invadiu de novo seus corações e seus corpos. Depois daquele dia, suas vidas nunca mais foram as mesmas...

Atalhos e brechas (T.V)


Sem a linha de chegada não há corrida. Para mim viver é linha de chegada. Eu nunca consegui acompanhar, em meio a todos, essa corrida. Sempre preferi correr e andar sozinho. Pelos atalhos e pelos trechos inexplorados. Por isso, minha vida é cheia de surpresas e assombros. Me espanto todos os dias, pelo simples fato da constatação da existencia. É sempre novo o dia e sempre mistério a noite. Onde estão todos, nunca estou. Sou assim, e faço de minha vida o exercício da liberdade, da alegria dissimulada de quem sabe-se só. E vou, continuo a ir por onde nunca ninguém esteve...

Sonhos "repetidos" (T.V)


Todas as noites sonho com a lua cheia. Vejo nuances de minha história que ajudaram a construir a pessoa que sou hoje: os acertos, os erros, as coincidências. De tudo que vejo, o que mais gosto são as coincidências. Talvez pense assim, porque no fundo um entendimento maior me alcança mostrando-me através de sensações que não se tratam meras causalidades. As linhas de nossas vidas são tecidas por uma série de acontecimentos que fugindo de nossas explicações racionais, chamamos de coincidências. Mas, como pano de fundo está nossos desejos, pensamentos e pequenas decisões, que levadas ao limite de nosso destino acaba por esbarrar em muitas, e muitas circunstâncias. E no sonho lembro do conceito de Jung: - *sincronicidade ou simplesmente "coincidência significativa". E volto ao sonhar. É um sonho lúcido, pois sei que sonho. Vejo-me em um campo verde, enorme e úmido pelo orvalho que visita as noites, trazendo frescor à vida onde durante o dia foi ressequida pelo sol tórrido do verão. Sempre é noite nos meus sonhos e com ela um silêncio que confundi-se com a voz de Deus. O silêncio, às vezes, é esquecido pelo barulho das águas e a canções de pequenos insetos noturnos. Estou deitado em uma parte desse campo olhando o céu, umas poucas estrelas e a lua cheia, cuja luz se torna suficiente para iluminar esse grande espaço edênico. Se não houvesse a lua, penso que poderia facilmente me perder por essa escuridão imensa e natural. Mas, não me atenho a escuridão por existir a luz natural da lua. Não há medo, nem dor: apenas paz, muita paz. Ao meu lado, sempre existem duas taças de vinho. Elas estão sob uma manta, com uma caderno em branco e uma caneta. São as linhas de minha vida buscando serem escritas enquanto há tempo e enquanto a história se constrói. Volto a olhar a lua. E penso: duas taças de vinho? Por que duas se estou sempre só nesses sonhos? Tenho então, sempre a mesma sensação: - Sei que a segunda taça pertence a uma mulher, que em suas noites não pode estar comigo. Então, levo o vinho à minha boca. E bebo por mim e por ela. Carvalho, cereja, chocolate, frutas vermelhas, couro... os sabores variados ao sabor de sua boca. Dentro de sua taça, sinto sua língua e bebo/beijo o vinho junto aos meus lábios. Sinto um leve entorpecimento, a ponta da flecha de Eros? O som da cítara de Baco? Um dia acho que conseguirei sonhar com ela ao meu lado sob a lua cheia, a noite, os insetos noturnos (cigarras, grilos, sapos e fadas). Sonharei junto a ela; o mistério do campo e as delícias de do vinho. Sinto no sonho o sonho e vejo em minha solidão sua companhia.........................................................................................
Volto a prestar atenção em mim: - paz. Olho por mais alguns instantes a lua e inalcançavelmente te vejo. Sorrio, porque vejo na lua o seu rosto... é hora de despertar... mais um dia e mais uma noite me esperam, e eu continuo com paciência aguardando o sonho onde estará ao meu lado... Sou um clandestino nesse mundo, um estrangeiro. Não tenho lugar... mas quando estou ao seu lado, esqueço de tudo, perco-me, encontro-me ... Sonho: continuo a ver seu rosto na Lua...


* Sincornismo: Termo cunhado por Carl Gustav Jung para sua teoria de que tudo no universo estava interligado por um tipo de vibração, e que duas dimensões (física e não física) estavam em algum tipo de sincronia. Tal idéia desenvolveu-se primeiramente em conversas com Albert Einstein, quando ele estava começando a desenvolver a Teoria da Relatividade. Einstein levou a idéia adiante no campo físico, e Jung, no psíquico. É um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Jung diz que a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige um outro princípio de explicação.

Jung


"Não posso provar a você que Deus existe, mas meu trabalho provou empiricamente que o "padrão de Deus" existe em cada homem, e que esse padrão é a maior energia transformadora de que a vida é capaz de dispor ao indivíduo. Encontre esse padrão em você mesmo e a vida será transformada." (C.G. Jung)

Verdade


"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"
"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário."
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.

Despedida de um verão... (T.V)


Esquecemos a alguns anos de olharmos as pequenas rachaduras de nossa história, de nossa vida. Chegou a hora. Consegue ver onde chegamos? Insegurança, ciúme e preconceito açoita suas noites e lhe tira o sono. Ela então, olhava-se no espelho: olheiras e pele ressecada. Você perdeu seus amigos e perderá a mim agora. Todas as formas de carinho foram bloqueadas e ela havia perdido sua intensidade e jovialidade. Sua saúde definhava e ela persistia a não olhar para si mesma. Tinha prazer em olhar para os outros; seus olhos sempre vermelhos, tersol, conjuntivite. Seu corpo falava de dores que sua alma não conseguia expor em palavras. Por isso, a doença. Quando a dor do ser não encontra palavras para se expressar, fala através do corpo. Havia adquirido uma falta de respeito pela diversidade da vida e seu autoritarismo fazia enxergar as coisas sempre por um único prisma. Vomitava nos outros seu próprio alimento. Sua incapacidade de se doar, de trocar altruistamente fizeram com que gerasse problema respiratórios. Sua incapacidade de olhar para seus impulsos e suas inclinações fizeram com que ela se tornasse essa pessoa, era tudo menos ser humano. Quando condenava atitudes e desejos nas outras pessoas e lhes atirava pedras, estava esbarrando em seus próprios desejos. Desejos que não admitia enxergar, seria insuportável demais, mas em sonhos eles perturbavam suas noites. Seus olhos haviam há muito perdido o brilho (mas algum dia eles brilharam?). Ele, no fundo sabia do que se tratava e precisava se libertar. Se ele ficasse ao seu lado, poderia se tornar esse bicho julgador e proclamador da condenação. Ele sentia que estava se tornando parecido a ela, embora lutasse contra. Via que a personalidade dela constantemente buscava abafar a dele. E se despersonalizar seria absurdo... Eles já não estavam mais juntos, e as despedidas foram aos poucos, no íntimo, e lentamente se despedia como quando se assopra a flor já seca de um dente de leão...

Na orla da praia...


(...) só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar
quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
quero dormir na distancia de um ser que nunca foi seu
tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu

(Fernando Pessoa)

Intimidade

A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. (Manuel de Barros)

"Jardim"... além ... (T. Villano)


Conheci um Jardim por coincidência (Deus está nas coincidencias diria Nelson Rodriguez). Bem, aconteceu que esse Jardim me deixou curioso e dês-comportado. Penso nele em intervalos desconexos que oscilam entre segundos e minutos, mas não horas. Continuo a me ver caminhando sob um Jardim escuro, creio que sempre haverá lugares escuros nele. Mas na escuridão me encontro e vejo em intervalos de luz: desejo e sonhos. Vejo e o Jardim me vê. Às vezes, sinto que nesse Jardim eu possa me perder de mim mesmo. Minha entrada nesse jardim foi rápida e violenta, como um parto antes do tempo. E reluto a entrega, o nascimento. Mas nele esqueço da rotina, pois não há tédio além da sua entrada. Nele, existe um rio, onde sonho me deixar levar pelas correntezas, flutuar em sua superfície... Mergulhar em suas profundezas. Também nesse Jardim existem flores, plantas e muita terra. Namoro bastante com todos os perfumes e frutos de suas árvores. Beijo e quando fica muito tarde, me despeço. É gostoso a espera por mais um dia. Gostaria em algum momento, de acordar de madrugada nesse Jardim e com sede apanhar do rio um copo de água. Tenho medo de que um dia tranquem a entrada desse Jardim e eu não possa mais entrar, explorar, brincar e descansar nele. Por isso, faço tudo o que posso: cuido, agradeço, converso, ouço, trato com muito carinho e rego de amor e água, toda a vida que há nele.

Carinho (T. Villano)


Conquistamos aproximação pelo carinho e pelo cuidado. O poder e autoridade podem conseguir tudo menos intimidade pois, o poder intimida.

Balzac


"É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música."


"As mulheres vêem tudo ou não vêem nada, segundo as disposições da sua alma: a única luz delas é o amor."


"Dentre todas as criaturas, a mulher é a mais perfeita: é uma criação transitória entre o homem e o anjo."


Echoes and silence, patience and grace. All of these moments i'll never replace. People I've loved, I have no regrets. Some I remember, some I forget. Some of them living, some of them dead. All I want is to be home.

- Ecos e silêncio, paciência e graça. Todos esses momentos eu nunca substituirei. Das pessoas que amei, não tenho nenhum pesar. De alguns eu me lembro, de outros me esqueço. Alguns deles estão vivos, outros mortos. Tudo o que quero é estar em casa.

Trechos da música "Home" - Foo Fighters.



"Hoje digo a ela que a amo", resolveu impulsivamente. Quase impulsivamente: pensara por alguns segundos antes de lançar o decreto à mente, procurando a melhor colocação pronominal. Amo ela. Amo-a. A amo. Uma breve dúvida de forma, insignificante perto do que queria dizer com todas as letras: amo-a, mais do que sei de línguas e palavras. (R. M. Rilke)

Amor, Transformação e Transcendência (Tiago Villano)


Ele não sabia ao certo porque a amava. E questionava-se acerca do inquestionável. Segundo ele, ela tolera com leveza o ócio do domingo. Não lhe cobrava além do que podia lhe dar. Quando lhe perguntava algo, seus comentários eram sempre inteligentes. Ela seduzia e ao mesmo tempo era dotada de bom humor. Quando sua era vaidade é posta à prova e seus (nossos) ridículos escancarados; conseguia rir de si mesma. Quando ele precisava de uma conversa séria, contar um problema, mesmo que banal, talvez se debruçar sobre seus ombros, talvez chorar: ela sabia ouvir e nunca fazia comentários que pudessem derrubá-lo (mesmo quando contava suas dores triviais). Com ela, podia brincar de infantilidades e ao mesmo tempo amar intensamente planejando o futuro de seus filhos. Na cama, não havia regras; entrega, fusão, metamorfose. Seus cabelos cor de ouro, seus olhos escuros e intensos. A maciez de sua pele, suas mãos fortes e delicadas. Seu corpo sem excessos, sem carências. Seios, pernas e pés... lisos, macios, marcantes. Seu doce hálito. Seu cheiro inconfundível. Tudo isso, ele via apenas porque conseguia amar. Sabia que seu amor iria além do físico, transcendia os limites do provável. Pois, ele escolheu aquela mulher para ambos envelhecerem juntos e observarem seus próprios corpos definharem mas, suas almas crescerem num raio de incandescência e brilho: amadurecimento. Esse era o sentido da vida. E ele sabia que se ambos perdessem um ao outro: a vida perderia o significado. Não porque ambos dependiam um do outro para viver, não porque ambos não tolerariam a solidão e a angústia de recomeçarem seus caminhos. Mas, unicamente porque não haveria mais amor, não amor: - ESSE AMOR. Sabiam que aquilo que viviam, não acontece duas vezes, pessoas não são substituíveis. E que ambos conseguiam crescerem e se transformarem pela inércia de um amor único. Era nessa existência que ele tinha que acontecer. Nunca mais se repetiria. Sabiam que nada... nada... nada do que ainda pudessem viver seria como esse AMOR.

Suicídio


O suicídio está aí (quem sabe, escolha?) então há como questioná-lo, não há como julgá-lo. Porque as decisões sobre o vivido não são lógicas, e a decisão pessoal, em qualquer momento de nossa vida, embora aparentemente se resolva num sim ou num não, esconde conflitos irresolvíveis, ambiguidades insondáveis, perguntas jamais formalizadas, perguntas que nem sequer procuram resposta, mas que rodam sobre si mesmas em espiral infindável. Essa imponderabilidade em relação ao que cada um de nós vive (...) é a fragilidade que sustenta nosso existir. Então, qual a razão de perguntarmos, por quê? Não se pode dizer. Estamos perguntando sobre algo alheio a resposta, no contexto explicativo, será também alheio. Pela curiosidade intelectual, nos livramos de assumir (com propriedade) a pergunta. Pergunta: E quando numa filosofia do absurdo a marca da autenticidade violenta o homem na apropriação de um espaço sem outros horizontes do que aqueles que o atam definitivamente a um destino? Quando só resta a clareza do momento presente, quando a lucidez se instala numa vida sem futuro, sem esperança, sem ilusões?


"Um gesto como este se prepara no silêncio do coração, da mesma maneira que uma grande obra. O próprio homem ignora (...) Começar a pensar é começar a ser minado. A sociedade não tem muito a ver com estes começos. O verme se acha no coração do homem. É ali que é preciso procurá-lo. É preciso seguir e compreender este jogo mortal que arrasta a lucidez em face da existência à evasão para fora da luz". (Camus)


Mas, em regra, quando se suicida um próximo de quem gostamos e que gostava de nós, não atribuímos vergonha e culpa a terceiros: esses sentimentos surgem em nós, ao descobrir que nossa presença e nosso amor não bastaram para que o outro quisesse viver. Em alguns casos, essa ferida nunca cicatriza. Quando o suicida é nosso pai ou nossa mãe, o sentimento de não termos sido a razão suficiente para ele ou ela viverem fica conosco para sempre, como um fundo melancólico, como a sensação de uma insuficiência essencial ou de uma impossibilidade de sermos amados. A verdade é que, uma vez os fatos acontecidos, somos capazes de interpretar, de encontrar explicações e mesmo de assumir responsabilidades e culpas que temos ou não temos. Mas tudo isso apenas retroativamente.Em matéria de comportamento humano, somos quase sempre incapazes de prever. Não sei se é um mal: talvez essa ignorância seja a condição de nossa liberdade (C. Calligaris)

"Assim extraio do absurdo três consequências que são minha revolta, minha liberdade e minha paixão. Apenas com o jogo da consciência transformo em regra de vida o que era convite à morte e recuso o suicídio" (Camus)

Perfume...


Seus cabelos de manhã lavados e secos ao sol do pequeno terraço estavam da seda castanha mais antiga (...) passou perfume na testa e no nascimento dos seios – a terra era perfumada com cheiro de mil folhas e flores esmagadas. Usava um perfume levemente sufocante, gostoso como húmus. Usaria brincos? Hesitou, pois queria orelhas apenas delicadas e simples, alguma coisa modestamente nua... (Clarice Lispector)

Símbolos


Quanto a mim, subtituo o ato da morte por símbolos. Símbolo este que pode se resumir num profundo beijo mas não na parede áspera e sim boca-a-boca na agonia do prazer que é morte. Eu, que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição. (Clarice Lispector)