Amor, Transformação e Transcendência (Tiago Villano)


Ele não sabia ao certo porque a amava. E questionava-se acerca do inquestionável. Segundo ele, ela tolera com leveza o ócio do domingo. Não lhe cobrava além do que podia lhe dar. Quando lhe perguntava algo, seus comentários eram sempre inteligentes. Ela seduzia e ao mesmo tempo era dotada de bom humor. Quando sua era vaidade é posta à prova e seus (nossos) ridículos escancarados; conseguia rir de si mesma. Quando ele precisava de uma conversa séria, contar um problema, mesmo que banal, talvez se debruçar sobre seus ombros, talvez chorar: ela sabia ouvir e nunca fazia comentários que pudessem derrubá-lo (mesmo quando contava suas dores triviais). Com ela, podia brincar de infantilidades e ao mesmo tempo amar intensamente planejando o futuro de seus filhos. Na cama, não havia regras; entrega, fusão, metamorfose. Seus cabelos cor de ouro, seus olhos escuros e intensos. A maciez de sua pele, suas mãos fortes e delicadas. Seu corpo sem excessos, sem carências. Seios, pernas e pés... lisos, macios, marcantes. Seu doce hálito. Seu cheiro inconfundível. Tudo isso, ele via apenas porque conseguia amar. Sabia que seu amor iria além do físico, transcendia os limites do provável. Pois, ele escolheu aquela mulher para ambos envelhecerem juntos e observarem seus próprios corpos definharem mas, suas almas crescerem num raio de incandescência e brilho: amadurecimento. Esse era o sentido da vida. E ele sabia que se ambos perdessem um ao outro: a vida perderia o significado. Não porque ambos dependiam um do outro para viver, não porque ambos não tolerariam a solidão e a angústia de recomeçarem seus caminhos. Mas, unicamente porque não haveria mais amor, não amor: - ESSE AMOR. Sabiam que aquilo que viviam, não acontece duas vezes, pessoas não são substituíveis. E que ambos conseguiam crescerem e se transformarem pela inércia de um amor único. Era nessa existência que ele tinha que acontecer. Nunca mais se repetiria. Sabiam que nada... nada... nada do que ainda pudessem viver seria como esse AMOR.

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