Sonhos "repetidos" (T.V)


Todas as noites sonho com a lua cheia. Vejo nuances de minha história que ajudaram a construir a pessoa que sou hoje: os acertos, os erros, as coincidências. De tudo que vejo, o que mais gosto são as coincidências. Talvez pense assim, porque no fundo um entendimento maior me alcança mostrando-me através de sensações que não se tratam meras causalidades. As linhas de nossas vidas são tecidas por uma série de acontecimentos que fugindo de nossas explicações racionais, chamamos de coincidências. Mas, como pano de fundo está nossos desejos, pensamentos e pequenas decisões, que levadas ao limite de nosso destino acaba por esbarrar em muitas, e muitas circunstâncias. E no sonho lembro do conceito de Jung: - *sincronicidade ou simplesmente "coincidência significativa". E volto ao sonhar. É um sonho lúcido, pois sei que sonho. Vejo-me em um campo verde, enorme e úmido pelo orvalho que visita as noites, trazendo frescor à vida onde durante o dia foi ressequida pelo sol tórrido do verão. Sempre é noite nos meus sonhos e com ela um silêncio que confundi-se com a voz de Deus. O silêncio, às vezes, é esquecido pelo barulho das águas e a canções de pequenos insetos noturnos. Estou deitado em uma parte desse campo olhando o céu, umas poucas estrelas e a lua cheia, cuja luz se torna suficiente para iluminar esse grande espaço edênico. Se não houvesse a lua, penso que poderia facilmente me perder por essa escuridão imensa e natural. Mas, não me atenho a escuridão por existir a luz natural da lua. Não há medo, nem dor: apenas paz, muita paz. Ao meu lado, sempre existem duas taças de vinho. Elas estão sob uma manta, com uma caderno em branco e uma caneta. São as linhas de minha vida buscando serem escritas enquanto há tempo e enquanto a história se constrói. Volto a olhar a lua. E penso: duas taças de vinho? Por que duas se estou sempre só nesses sonhos? Tenho então, sempre a mesma sensação: - Sei que a segunda taça pertence a uma mulher, que em suas noites não pode estar comigo. Então, levo o vinho à minha boca. E bebo por mim e por ela. Carvalho, cereja, chocolate, frutas vermelhas, couro... os sabores variados ao sabor de sua boca. Dentro de sua taça, sinto sua língua e bebo/beijo o vinho junto aos meus lábios. Sinto um leve entorpecimento, a ponta da flecha de Eros? O som da cítara de Baco? Um dia acho que conseguirei sonhar com ela ao meu lado sob a lua cheia, a noite, os insetos noturnos (cigarras, grilos, sapos e fadas). Sonharei junto a ela; o mistério do campo e as delícias de do vinho. Sinto no sonho o sonho e vejo em minha solidão sua companhia.........................................................................................
Volto a prestar atenção em mim: - paz. Olho por mais alguns instantes a lua e inalcançavelmente te vejo. Sorrio, porque vejo na lua o seu rosto... é hora de despertar... mais um dia e mais uma noite me esperam, e eu continuo com paciência aguardando o sonho onde estará ao meu lado... Sou um clandestino nesse mundo, um estrangeiro. Não tenho lugar... mas quando estou ao seu lado, esqueço de tudo, perco-me, encontro-me ... Sonho: continuo a ver seu rosto na Lua...


* Sincornismo: Termo cunhado por Carl Gustav Jung para sua teoria de que tudo no universo estava interligado por um tipo de vibração, e que duas dimensões (física e não física) estavam em algum tipo de sincronia. Tal idéia desenvolveu-se primeiramente em conversas com Albert Einstein, quando ele estava começando a desenvolver a Teoria da Relatividade. Einstein levou a idéia adiante no campo físico, e Jung, no psíquico. É um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Jung diz que a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige um outro princípio de explicação.

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