Despedida de um verão... (T.V)


Esquecemos a alguns anos de olharmos as pequenas rachaduras de nossa história, de nossa vida. Chegou a hora. Consegue ver onde chegamos? Insegurança, ciúme e preconceito açoita suas noites e lhe tira o sono. Ela então, olhava-se no espelho: olheiras e pele ressecada. Você perdeu seus amigos e perderá a mim agora. Todas as formas de carinho foram bloqueadas e ela havia perdido sua intensidade e jovialidade. Sua saúde definhava e ela persistia a não olhar para si mesma. Tinha prazer em olhar para os outros; seus olhos sempre vermelhos, tersol, conjuntivite. Seu corpo falava de dores que sua alma não conseguia expor em palavras. Por isso, a doença. Quando a dor do ser não encontra palavras para se expressar, fala através do corpo. Havia adquirido uma falta de respeito pela diversidade da vida e seu autoritarismo fazia enxergar as coisas sempre por um único prisma. Vomitava nos outros seu próprio alimento. Sua incapacidade de se doar, de trocar altruistamente fizeram com que gerasse problema respiratórios. Sua incapacidade de olhar para seus impulsos e suas inclinações fizeram com que ela se tornasse essa pessoa, era tudo menos ser humano. Quando condenava atitudes e desejos nas outras pessoas e lhes atirava pedras, estava esbarrando em seus próprios desejos. Desejos que não admitia enxergar, seria insuportável demais, mas em sonhos eles perturbavam suas noites. Seus olhos haviam há muito perdido o brilho (mas algum dia eles brilharam?). Ele, no fundo sabia do que se tratava e precisava se libertar. Se ele ficasse ao seu lado, poderia se tornar esse bicho julgador e proclamador da condenação. Ele sentia que estava se tornando parecido a ela, embora lutasse contra. Via que a personalidade dela constantemente buscava abafar a dele. E se despersonalizar seria absurdo... Eles já não estavam mais juntos, e as despedidas foram aos poucos, no íntimo, e lentamente se despedia como quando se assopra a flor já seca de um dente de leão...

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