Desvios (Tiago Villano)



Infelizmente, o homem se tornou a medida de todas as coisas. Tudo o que existe hoje foi criado pelo próprio homem. Ele humanizou Deus e endeusou seus altares de madeira e cimento. Se diz senhor de tudo e subjulga todos os seres, criando regras e leis arbitrárias segundo sua própria necessidade mercadológica, narcisista e moralista.

Se tornou o senhor dos mestres mas, disfarça sua insegurança e fragilizade absoluta, através dos manuais de educação, de comportamento, de etiqueta e de como viver a vida. Como ele não tem como assegurar e garantir esse "como viver" acaba por construir para si discípulos, onde pode então, usufruir do seu máximo gozo; o poder! Assim, diz para si mesmo: - "Eles precisam de mim"! Os escravos, por sua vez, dizem: - "Eu preciso dele! E um dia gostaria de ser como ele"! Acabam então, não se importando em vender seu direito de escolha por uma promessa futura. Permitem serem "apedrejados", pois no fundo, querem ser também idolatrados. A parte: O preço que se pagamos em abrir mão da confiança básica para viver, amparando-se em normas e manuais de conduta sobre a vida - além de deixarem que outros decidam a vida por você - é o de carregar um eterno sentimento de culpabilidade, juatmente porque estaremos sempre em débito com nós mesmos.

Meu Deus, até quando debaixo das pontes ficará escondido a essências das águas límpidas da liberdade? Até quando ficará submerso sob o asfalto e sol escaldante o poder da Terra e de toda a vida que foi esquecida? Nossas construções materiais são como fogos de artifício e maravilham aqueles que acreditam que a Avenida Paulista é um clone do Jardim do Éden. Máquinas, virtualidade e tecnologia abafam as maravilhas do que o homem não é capaz de produzir: Natureza, silêncio e vida. Tudo está aculto, escondemos o céu sob os prédios, escondemos a terra sob nossas construções e deixamos de ver o mar, na busca desenfreada apenas por petróleo. E o homem metafísico dá risada, embriaga-se com seus estudos sobre a bolsa de valores, enquanto suas esposas cansadas da falta de atenção - deitam-se na cama de seus inimigos, enquanto seus filhos cansados da falta de amor, abrigam seus corpos em drogas. Até quando meu Deus, nós seremos cegos para a real necessidade do espírito?

Eu mesmo me perco e busco em silêncio ouvir um sopro do sagrado. Ilumine-me e abeçoe seus filhos para que possamos ajudar aqueles que nos pedem socorro. Hoje, mesmo assim, criando artefatos de segurança - chego a pensar que os loucos - andarilhos da verdade - são hoje os mais lúcidos dentre a Terra - sua loucura é uma defesa em face ao estupro que a verdade traz aos seus olhos.

Iniciei o texto com um quadro (o Semeador) de Van Gogh e agora, termino com suas palavras - as palavras de um ser humano que foi chamado de louco. Um louco maravilhosamente lúcido.


Quem não é senhor do próprio pensamento não é senhor de suas ações (...) Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar (...) O amor é eterno - a sua manifestação pode modificar-se, mas nunca a sua essência... através do amor vemos as coisas com mais tranqüilidade, e somente com essa tranqüilidade um trabalho pode ser bem sucedido (Van Gogh)


Serenidade diante do caos - SHALOM




Um comentário:

  1. O homem há muito tempo deixou de dar a devida importância ao "Ser”, O "Ter" é o mais importante! Toda a tecnologia (reconheço que muitas são de grande valia) nos afasta do simples, nos afastam das obras do Divino.
    O ser humano por sua petulância se coloca em um lugar que não foi lhe dado o direito, não reconhece a sua insignificância perante o universo, quer ser o “dono da razão”, quer achar explicação para tudo, muitas vezes, simplesmente existem coisas que não há explicação inteligível para nossa pequena capacidade.
    Quanto mais o homem se esconde na busca pelo “Ter”, mais distante fica do propósito original - SER FELIZ COM AS COISAS SIMPLES DA VIDA!

    Parabéns Tiago!
    Seu blog está maravilhoso!

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