Responsabilidade e Diluição (Tiago Villano)


Heidegger, pontua que estar só é a condição original de todo ser humano e o nascimento seria o ponto inicial do lançar-se no mundo, à própria sorte. O que distinguiria cada indivíduo é a forma como cada um lida com a solidão, o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre. Para isso, há de se considerar o modo como se interpreta a origem de sua existência, nos deparamos com dois movimentos básicos: o autêntico e o inautêntico.


No primeiro estilo, o indivíduo aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade. Assume a responsabilidade por todas as suas escolhas existenciais, aceitando correr os riscos que forem necessários para atingir os seus objetivos; encontrando amparo e segurança em si mesmo. Com isso, se torna Sujeito, apropriando de sua existência, tornando-se indivíduo autônomo, dono da própria vida.


Já no segundo, a solidão é interpretada como abandono, uma desconsideração de “Deus” ou da vida em relação a ele, não assumindo as responsabilidades sobre suas escolhas. Não aceita correr riscos para atingir seus objetivos, nem se sente responsável por sua existência. Assim, busca amparo e segurança nos outros, nas instituições ou nos grupos. Abre mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal. Permanece na vida sendo um coadjuvante em sua própria história.

Muitas pessoas hoje, sentem dificuldade de estarem a só consigo mesmas. Não conseguem viver intensamente a sua própria vida ou acreditam que o brilho e o encantamento da vida se encontram no outro e não nelas mesmas. Com isso, esquecem e não se dão conta de que sua vida tem por si só um encantamento, um brilho, algo de especial porque é sua, apenas sua; justamente pelo fato do ser humano ser único.


Se a solidão é uma condição inerente ao ser humano no mundo, não se deve considerá-la como negativa ou que seja preciso acabá-la. Mas sim, aceitá-la, somente isso. Não é preciso preencher este vazio como atividades, trabalhos, hobbies ou permitir que a angústia tome conta desta sensação ou suprimi-la. Como a angústia mostra de maneira mais nua a inospitabilidade do mundo e isso causa um estranhamento, a possibilidade de se refugiar nas manifestações da massa parece sedutora, pois se poderá ter a ilusão de que não se é estranho, as coisas não estão estranhas e, evidentemente, aqui estará amparado, protegido, sentindo-se pertencente, acolhido.


Como o desconhecimento do mundo e das certezas universais é suspenso vez por outra pela visita inesperada da angústia, aceitar-se ser guiados por outros, permite abrir mão da responsabilidade, o que conseqüentemente o livra aparentemente da culpa, da solidão e da incerteza de ir à busca das escolhas. Mas cedo ou tarde teremos de nos encontrar com nós mesmos e se suprimimos nossa singularidade e responsabilidade, teremos consequências: - Pânico? Fobias? Depressão? Talvez... mas não ser fiel a nós mesmos acarretará em um preço, cedo ou tarde.

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