Separação, o fim de um relacionamento (Tiago Villano)



É extremamente complexo analisarmos todas as questões que envolvem uma separação mas, poderemos agora numa breve tentativa analisarmos algumas variáveis significativas do ponto de vista existencial.

O fim de um relacionamento é sempre muito doloroso e o processo de adaptação pode durar pouco tempo ou muito tempo, dependendo da constituição interna de cada pessoa.

De fato, a maioria das pessoas tendem a viver a separação como uma traição (muito embora ela possa não ter ocorrido). Em outras palavras, uma sacanagem do parceiro ou da vida. Os homens, podem demonstrar uma certa facilidade em lidar com a rejeição, no caso das mulheres ou elas chegam ao seu limite e tomam a decisão ou sofrem muito com as conseqüências de uma separação. O ponto é que muitas vezes, aqueles que sofrem a perda da pessoa amada (ou não) podem se instalar numa dúvida radical sobre eles mesmos. Além do que, preste atenção: O casamento pode ser usado como uma ferramenta que nos permite acusar alguém de nossa própria preguiça. Ou seja, se sou covarde ou tenho medo, posso dizer que desisto de meus desejos e aspirações por causa de minha parceira(o).

É comum que antes da separação a relação já esteja abalada (embora não seja regra). Prefiro acreditar que sempre é possível atravessar esse momento sem essa atitude radical, pois creio que exista (nem que seja uma fagulha) a possibilidade de ambos se transformarem nesse processo de crise, mas isso exigirá que pelo menos um dos cônjuges tenha um certo grau de maturidade.

Mas, convenhamos. Existe uma decadência inerente dos sentimentos do namoro e o casal pode se instalar numa inércia desgastante. Resultado: sempre acabamos enxergando as falhas um do outro. Além precisamos deixar de idealizar a duração de uma casal (até que a morte nos separe, amor para a vida inteira, etc). Por que? Porque podemos deixar de perceber separações que podem ser necessárias, em um processo de sofrimento eterno. Existe uma frase que nos mostra bem o que quero dizer: "... é preciso acabar com um casamento, antes que casamento acabe com você." Em alguns casos, isso é verdadeiro.

Mas, voltemos à experiência. Muitos podem se colocar em dúvida diante do mundo do tipo: Será que eu sou agradável para alguém? Será que um dia serei verdadeiramente amada(o)? A sensação de rejeição é uma experiência que pode ameaçar o que seria, já de antemão, uma precária certeza de ser aceita no mundo, uma experiência "cataclísmica", que de fato corrói todo seu ser.

As relações ditas saudáveis são aquelas onde há o respeito à pessoa. Onde não se é complacente com os defeitos do outro, onde não se procura mudar os defeitos do outro a todo custo, mas sim, se lida-se de forma leve, com tolerância e bom humor (afinal na maioria dos casos, já conhecemos a pessoa com esses defeitos). Amar é saber que o outro não esta aqui para suprir com todas as nossas expectativas e necessidades.

Infelizmente, em nossa cultura parece que todo mundo tem que aprender a se separar, só que em contra partida esquecemos que antes, devevemos aprender principalmente a se relacionar. Na maioria dos casos, percebe-se a incapacidade de se relacionar por parte de pelo menos um dos cônjuges. Ele aprende a se separar mas não (re) inventa a arte de se relacionar.

Vamos prestar atenção em discursos como: - Não conseguirei viver sem ele(a)! Não conseguirei ficar sozinha(o). Como ele(a) seguirá sua vida sem mim?". Logo, poderá vir o auto-deprezo, o sentimento de pena de si mesmo etc.

Em muitos casos, a dor sentida não se trata de amor, mas de orgulho ferido - um golpe em nossa vaidade e narcisismo, em nossa auto-afirmação: - "Como pude ser rejeitada(o), deixada(o)? Logo eu?"

O mais conflituoso de tudo serão as dúvidas sobre si mesmo que a pessoa poderá se aplacar ou seja, o que a pessoa pensará dela mesma, o juízo que terá de si. Seu amor-próprio cairá em suspenso e a angústia poderá dominar e paralisar sua vida. No fundo poderá se questionar: - "Eu me iludi achando que era importante. Como eu achei que poderia ser tão importante e agora ele(a) me deixa? Por que?

O sofrimento advém de um sentimento básico de abandono que se reflete na falta de recursos internos para lidar com a solidão, seduzindo-se com sentimentos de auto-valor e auto-importância. A pessoa se via até então como "especial" para o outro, quando na realidade o que fez foi comprar uma idéia errada de si e do companheiro que escolheu. Talvez tenha inventado seu parceiro a seu bel prazer, a seu próprio gosto e egoicamente que o outro precisava dele para sobreviver.

Logo depois do fim, a pessoa poderá nutrir sentimentos de vingança - esses derivados da sensação de ressarcimento pela perda envolvida ou mal que achou que sofreu sem merecer. Em relações doentias o que está em jogo é a junção de duas neuroses que necessitam de si para se alimentar. Nesses casos, a dificuldade em romper é maior ainda, porque a sensação escancarada é a de que - um não conseguirá sobreviver sem o outro - pois ambos precisam de si para se exorcisarem.

Por fim, depois de um tempo (que varia de acordo com cada pessoa) muitas lições poderão ser tiradas. A pessoa aprenderá que estar sozinho não significa estar abandonado. Talvez ela não tenha se dado conta de que mesmo casada já se encontrava sozinha. O que não havia era a cumplicidade de ambos compartilharem as duas solidões. Verá no processo que nada é para sempre. Que deve estar sempre preparada para as mudanças. Verá que não poderá mais se anular em detrimento do outro. Não esperará calada que o companheiro(a) descubra suas vontades, gostos e desejos sem verbalizá-los. Tudo mais tarde se transformará em um processo de amadurecimento para quem conseguir tirar as lições de todo esse sofrimento.

Amar alguém é se encantar com o jeito de ser da outra pessoa. É reconhecer que cada um possui outras urgências na vida e que um não pode girar em torno do outro. É aprender a amar, não porque ele corresponde aos nossos desejos, mas porque pode confiar, se doar, se apoiar quando necessário. É saber que o outro está conosco porque é livre, e escolheu espontaneamente estar ao nosso lado. É percebermos que não há garantias, nem certezas absolutas, mas que vale a pena. Em muitos casos, aquela sensação inexplicável de uma enamoramento também vem na hora de perceber, que o casamento já terminou faz tempo.

5 comentários:

  1. MARAVILHOSO!!!! SÓ QUEM PASSOU PELA DOR DA
    SEPARAÇÃO ENTENDE PLENAMENTE AS PALAVRAS
    SÁBIAS DO SEU TEXTO. AS VEZES PRECISAMOS
    TERMINAR UM CASAMENTO PARA NÃO TERMINAR COM NOSSA VIDA E VC SABE PORQUE DIGO ISSO.......
    MUITO OBRIGADO POR VOCÊ EXISTIR E TER ESTA
    CAPACIDADE ENORME EM PRODUZIR TEXTOS COMO
    ESTE E TANTOS OUTROS QUE JÁ ESCREVEU E TENHO
    CERTEZA!!!! QUE MUITOS MAIS VIRÃO INSPIRADOS
    NA SUA SABEDORIA! PARABÉNS!!!! NÁDIA

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  2. Parabéns Tiago, impressionante seu texto. Quando se separa, acontece isso mesmo, proncipalmente quando voce amava muito a pessoa e esta por sua vez, percebendo isso, não dá o devido valor. Mas a vida segue e voce tem me ajudado muito nesta fase nova da minha vida. Sérgio

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  3. O TEMPO ACABA CURANDO UMA SÉRIE DE DORES RELACIONADAS A SEPARAÇÃO.NO´INÍCIO A PERGUNTA É:COMO VOU VIVER SOZINHA? MAS O TEMPO PASSA....E DESCOBRIMOS COMO SOMOS FORTES,QUE CONSEGUIMOS SIM VIVER SÓ E QUE NOSSA AUTO ESTIMA NÃO DEPENDE DO QUE UM PARCEIRO ACHE OU DEIXE DE ACHAR DE NÓS. QUEM DEVE SE VALORIZAR É A PRÓPRIA PESSOA.ANTES DO CASAMENTO ELA EXISTIA COM SUAS QUALIDADES E DEFEITOS E DEPOIS DO ROMPIMENTO DE UM CASAMENTO A PESSOA DESCOBRE QUE ESTÁ VIVA!!! COM SUAS QUALIDADES E QUE EXISTE OUTRAS PESSOAS QUE PODEM ENXERGAR NELA O QUE O INFELIZ EX PARCEIRO DEIXOU DE NOTAR POR TER SE TORNADO INSENSIVEL AO AMOR. QUE BOM ESTAR VIVA E ME AMANDO E SABENDO QUE EXISTE UM NÚMERO GRANDE DE AMIGOS E PARENTES QUE ME AMAM DE VERDADE E QUE NÃO PRECISO DA ATENÇÃO DE ALGUÉM QUE SE TORNOU INSENSIVEL PARA A VIDA.

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  4. Lindo e verdadeiro seu texto, a dor da separação nada mais é do que um luto, principalamente qdo ela causada por traição. As magoas são profundas e isso demora a cicatrizar, mas para tudo tem um fim, graças a Deus. Não se aprende nada com relacionamentos anteriores,porque é impossível aprender com uma pessoa insensivel, mas aprendemos sim com o que vivemos depois da separação, é a tristeza e a nescessidade de sobreviver a tudo e dar a volta por cima que nos fazem ver que estamos vivos. Sobrevivi...não esqueci de tudo não...mas estou aqui.

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  5. Essa frase é verdadeira "... é preciso acabar com um casamento, antes que casamento acabe com você."
    Antes me encontrava sozinha e abandonada estando casada,agora eu me encontro comigo mesma e me sinto completa e inteira,deixei de ser metade para agradar o a outro.
    Existe outra frase que diz mais ou menos assim: Tem coisas que agente não perde, se livra.
    Belo texto!

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