Ecologia


A modernidade se instaurou pela vontade de poder. Bem-traduzida, significa vontade de dominar os outros e vontade de submeter a natureza e de lucrar (saber é poder, de Francis Bacon). Bacon, é ainda mais explícito ao escrever que o saber e o poder existem para "amarrar a Natureza a teu serviço e fazê-la tua escrava". Parte-se do falso pressuposto de que nos movemos entre dois infinitos: o infinito dos recursos naturais e o infinito do progresso linear. Hoje, em consequência deste modo de ser, roçamos os limites do apocalipse nuclear ou de uma hecatombe ecológica. Denuncia-se sua voracidade numa expressão clássica dos gregos: hybris (desejo desenfreado, ambição desmesurada, quebra da justa medida). Precisamos abandonar de vez nosso paradigma ocidental - da identidade e da assimilação do diferente dentro da identidade - para abir-se a uma percepção bíblica e arcaica, segundo a qual não se conhece o igual através do igual, mas os desiguais se conhecem reciprocamente pelo reconhecimento de suas diferenças. É o principio de Noé. Em sua arca transportou animais de todas as espécies para além dos interesses utilitários humanos. Devemos afirmar nossa comunhão com o todo. O ser humano precisa se reconciliar com o universo. Não precisa ter vergonha de suas raízes cósmicas. O ser humano é um fim. Mas não um fim último. Nem coroa da criação. é um irmão e uma irmã das lesmas e das estrelas. O ser humano vem compreendido em sua inserção, em sua solidariedade e em comunhão com o conjunto dos seres. Abrir uma esperança de uma criação mais re-encantada, de um ser humano, homem e mulher, mais ternos e fraternos com todos os demais seres da natureza. Precisamos chamar um mudança de consciência, um repensar de quem somos e de qual nosso lugar no Todo. (Leonardo Boff, trechos do prefácio do Livro "Encantamento do Humano", de Nancy Magabeira Unger)

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