De novo


Havia um cansaço em seus ombros e pernas. Andava sozinho em passeios diários: parques, praças, ruas. Seu olhar era vago e distante. Sentia-se resignado diante de seu impulso por viver. Sentia uma alegria em estar vivo mas, agora sem o mesmo fulgor, sem a intensidade necessária para tornar seus pesos mais leves. Possuía um olhar sereno e ao mesmo tempo triste. Seus olhos percorriam as mulheres de todos os cantos e nenhuma era capaz de chamar sua atenção. Gostava de passear a noite, um insônia recorrente tirava-lhe o sono. Em seus passeios: lua e noite. Meditava e saudava os habitantes do mundo noturno, sobretudo os gatos lhe chamavam especial atenção. Durante muito tempo, ele não mais conseguira se apaixonar. Para ele seres humanos de verdade estavam em extinção. Percebia apenas pessoas alienadas: trabalho, dinheiro, status e prestígio. A estética deixava sua marca em todos os cantos: - aparência e superficialidade. Em um mundo de cegos os olhos já não são necessários.Os olhos apenas serviam para enxergar o limitado. Muitos já não conseguiam enxergar o extraordinário. Foi quando numa tarde de sábado conheceu uma pessoa especial. Alguém que se interessava na vida, nos outros. Alguém que reconhecia os sofrimentos e as dores de existir mas que com o dom da sabedoria construía recursos internos para continuar a amar. Ela lhe emprestaria sua companhia. Ele lhe daria amor e carinho. Ele lhe ensinaria o desconhecido e ela o mistério. Jamais pensara em gostar de uma outra mulher. Jamais pensara que o amor pudesse voltar a lhe emprestar sua chama. Eros, o senhor das flechas incumbiu-se do necessário, dessa vez sem ferir a si próprio.

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