Power (T.Villano)


Visão máxima de nossa era. Tudo se torna uma máquina de poder (profissão, religião, inteligência, autoritades). Ninguém é mais de igual para igual. Está tudo desnivelado. Queremos controlar tudo até a Natureza e seus recursos, os animais e seus co-irmãos. E ainda não percebemos que quanto mais controle - maior o descontrole.
Tudo pode ser perdido se diante de nossa liberdade não soubermos aceitar e manter correspondêcia com nós mesmos. Explico: quando agimos de acordo com nosso "si mesmo" somos fiéis a nossos ideais e a nossas virtudes (que como diria Nietzsche - deveria ser re-inventada e sempre ultrapassada descolando-se da tradição). Todos aqueles que oferecem soluções e possibilidades de promessas e ideais pré-fabricados pelos sistemas intelectuais e racionais de nossa época, podem se perder pelo único erro e mais originário do ser humano: - poder. É possível oferecer a escada do vizinho para alcançar seu desafio?
Vemos hoje o exercício descomedido do poder. Os gregos chamavam de Hybrys (descomedimento, algo como o excesso de avidez, desejo e ganância) evidentemente essa palavra continha uma força muito maior do que nossas traduções mas, para eles, não existia essa idéia de progresso. Em que sentido? De conquista, de acúmulo de títulos, bens, status e territorialismo. Eles se contentavam com outro tipo de qualidade de vida. Hoje, há algo mais assustador: o excesso de preocupação estética. Vivemos numa geração onde a beleza externa marca seus limites. O ter em detrimento do ser. Quero ser admirado, visto, reconhecido mas, a que preço? Dominando os indícios da velhice: silicone, botox, cirurgias. O que vale é demonstrar superioridade seja ela intelectual, religiosa, financeira ou acadêmica.
Nossas relações se embobrecem pois até a forma com nos relacionamos com os outros, pais, filhos, maridos, esposas ficam contaminados pelo desejo de exercer domínio e poder. Além de tudo ser fast-food e descartável (inclusive as pessoas). Perde-se o respeito e não se conquista intimidade, afinal o poder intimida. As relações são recicláveis, descartáveis como tudo ao nosso redor. Não se cria mais raízes com nada, é tudo rápido e passageiro. Troco de mulher como troco de carro. Alguns possuem mais carros que amigos, mais celulares que tranquilidade.
Seria a hora de hora de repensarmos nosso momento histórico? Creio que sim. Vivemos em um momento de transição ecológica e não só. Todos param diante dessa avidez por novidades, dessa fome descomedida de tudo controlar e dominar. A palavra "crise" vem de uma palavra grega que significa: momento de decisão. Algo está mudando e precisa ser mudado.
Ninguém mais consegue lidar e aceitar a frustração, deve-se obter satisfação e prazer ao máximo. Não se convive mais com a dor, ela deve ser banida portanto - tome um medicamento. impotência? Viagra.
Não se gasta mais tempo comtemplando o sol, os filhos brincando na praia, construindo suas histórias em seus castelos de areia. Não se brinca mais com os animais, ao contrário - eu quero adestrá-lo ao máximo. E o outro lado? Escravizamos eles para que se tornem lucro e retorno financeiro. As igrejas, pelo poder, buscam adeptos para lucrar e conseguirem fundos - quem dá mais? Deus te recompensará. Como se Deus fosse comprável. Como se ele fosse uma pessoa que como nós, visamos o troco, o dar para o receber. Humanizamos ele.
A essência se perde, não se conhece mais nossos próprios recursos interiores para lidarmos com as dúvidas, tudo precisa ser explicado, tudo precisa ser conhecido, medido e solucionado. Mistério? Essa palavra foi banida pois a luz da razão deve iluminar todos os cantos escuros, nada deve ficar sem resposta. Não conseguimos dormir mais diante do nada e da interrogação. Deus deve ser explicado, o espírito e suas leis invisíveis decifrados. Os poetas e artistas perdem forças pois tudo é mercado. Um dia, se não sermos a mudança que queremos ver (Ghandi) seremos mais um dos produtos mercadológicos onde nos anúncios virtuais poderemos comprar companhia, maridos, filhos e amigos... mas já estamos perto disso não é mesmo...

Um comentário:

  1. Oi,tudo bem? Gostei muito do texto,me fez lembrar de uma matéria que li esta semana, quando vc diz que "a essencia se perde...;não se cria mais raízes tudo é rapido e passageiro...;fikei pensando quão bom seria voltar para o passado,ver aquele telefone preto de disco q nunca dava linha ver o quitandeiro da esquina com o lápis atrás da orelha,crianças na rua brincando de pular corda...realmnte o poder, tem nos coagido á virarmos aparelhos " temos de funcionar e não viver"
    e concerteza achar q tem o controle de tudo pode ser o maior descontrole; PS: "ÓTIMO TEXTO"

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