Pegadas


As vezes, nos momentos de angústia, ele se sentava à espreita e pedia respostas, precisava delas. Respostas que vinham de dentro, bem do fundo. Nasciam de muita reza e solidão. Ontem passou parte do tempo pensando no que havia de fazer. E então, resolveu escolher uma mulher de um mistério indizível, de uma beleza estrangeira. Seu sorriso o levara a vários cantos do mundo. Seus olhos faziam dissolviam o tédio de domingo. Ela o fazia esquecer que os dias, mesmo tristes, tinham traços lindos. Que embora a vida fosse uma breve aparição, poderia ser lugar e espaço para a aparição dela. Que às vezes, a vida nos mostra que somos sempre um pouco só, mas duas solidões acompanhadas aquecem uma à outra, era é dessa ternura que estava pensando. Ao lado dela, não se aborrecia por pensar que amanhã era segunda-feira. E se perguntava o que havia nela de especial? Pele, perfume, movimento, pausa, dança, ritmo, silêncio, beijo, abraço.
Cheio de medos, seus olhos fechados percorriam as esfera da imaginação. Respostas? O que se há de fazer com uma resposta? Poderá ser elas uma invenção para dar conta de nossa insegurança? A certeza abafa as angústias. Ali, não havia certezas, apenas perguntas e indagações. O ser humano nada mais é do que uma questão em aberto. Mas agora, havia chegado a hora. Tudo no seu tempo, as coisas demoram para amadurecer. E em passeios curtos, por jardins, bosques e praças imaginava estar vivendo uma nova história. Uma nova estação. O inverno passou.
Assim, ele e mais ninguém se permitia estar vivendo de novo o presente divino. Ele se autorizava a isso e mais ninguém. Deixar de amar por medo de sofrer, não seria o mesmo que deixar de viver por medo de morrer?
E quando pensava em seus cabelos, lhe vinha mente pequenos raios de sol. Quando pensava em sua boca (algo que acontecia com frequência) imaginava a maciez e o gosto pessêgos. Seu perfume era como o cheiro da noite, jasmim, baunilha... Seus olhos de um leve toque do oriente. Tudo o que se precisa é deixar acontecer. Quando não se procura, se acha... Quando não se brinca de esconde-esconde pode-se ser encontrado. Quando não se tem sede, a água se transforma em vinho. Companhia: a hora de estar junto e a hora de estar sozinho. Não se pode esperar por trilhas e estradas prontas, há de se trilhar com sangue e dor o seu próprio caminho... Assim a existência se justifica e pode ter uma razão... Encontra sentido sem carimbo de autenticação. Faz música e poesia, a canção própria da vida...

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