Doce Loucura


O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma benção estranha como a de ter loucura sem ser doida. É mais ou menos isto: é só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos é que começamos a saber... (Clarice Lispector)

Estar só (I)


Não se deve deixar enganar em sua solidão, por existir algo em si que deseja sair dela. Justamente tal desejo, se dele se servir tranqüila e sossegadamente como um instrumento, há de ajuda-lo a estender a sua solidão sobre um vasto território. Os homens, com o auxilio das convenções, resolveram tudo facilmente e pelo lado mais fácil; mas é claro que nós devemos agarra-nos ao difícil (R. M. Rilke)

Estar só (II)


O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo (...) Mas a solidão há de dar-lhe, mesmo em condições muito hostis, amparo e lar, e partimdo dela encontrará todos os caminhos (...) Por isso, caro senhor, ame a sua solidão e carregue com queixas harmoniosas a dor que ela lhe causa. Alegre-se com essa imensidade, para a qual não pode carregar ninguém consigo. Seja bom para com os que ficarem atrás, mostre-se-lhes calmo e sereno sem os atormentar com suas dúvidas, nem os assustar com uma confiança ou uma alegria que eles não poderão compreender. Ame neles a vida sob uma forma estrangeira e tenha indulgência com os homens que, envelhecidos, temem a solidão a que o senhor se confia... (R. M. Rilke)

Amar


Assim, para quem ama, o amor, por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento cada vez mais intenso e profundo. O amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundi-se, unir-se a outra pessoa. O amor é uma ocasião sublime para o individuo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe (R. M. Rilke)

O Maior Obstáculo


Mas existe um grande, o maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma, tenho sido a maior dificuldade no meu caminho (Clarice Lispector)

Prece


"No silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te a Paz, a Sabedoria, a Força. Quero olhar hoje o mundo com os olhos cheios de amor, ser paciente, compreensivo, manso e prudente. Quero ver além das aparências. Como Tu mesmo os vês, e não ver senão o Bem de cada um. Cerre meus lábios de toda a maldade, guarda minha língua de toda mentira. Que só de bênçãos se encha a minha alma. Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos aqueles que se achegarem a mim sintam a Tua Presença. Reveste-me de Tua Beleza, Senhor e que no decurso de minha vida, eu Te revele a todos".

Crescer... (Tiago Villano)




















Desesperar-se é deixar de esperar? (des-esperar) ou deixar de ter esperança? Por que existe a sensação da “insignificancia”? Assim, enquanto continuo em minha lavoura, toda fé se esvai, se dissipa e toda a vida se torna vácuo - NADA. Morte e vida se unem numa união serena. Todos os cheiros e sons da natureza trazem à mim a voz de Deus, que se manifesta em intervalos de silêncios. Sua face oculta se manifesta e então, me esvazio ainda mais. Os opostos se tornam ainda mais transparentes: o sagrado, o profano. A beleza, a miséria. O tédio, a avidez. A maravilha, a desgraça. A impermanência das coisas e da vida escancara a existência. Nada se cria, nem se destrói – mutação contínua. União perene. Seria essa lucidez uma benção? Ou um demônio particular? (Tiago Villano) Citação: “O carvalho mesmo assegurava que só semelhante crescer significa: abrir-se à amplidão dos céus, mas também deitar raízes na obscuridade da terra; que tudo que é verdadeiro e autentico somente chega à maturidade se o homem for simultaneamente ambas as coisas: disponível ao apelo do mais alto céu e abrigado pela proteção da terra que oculta e produz.” (Heidegger)

A CASA (Tiago Villano)



A Casa

Em um dia qualquer, aproximo-me e vejo: a casa está vazia. Dou alguns passos - silêncio (...) Alguns segundos depois, breves relâmpagos e uma leve chuva. Sinto um pouco de frio. Encontro uma garrafa de vinho meio aberta - aqueço-me. Ouço, por instantes, passos na escada – sombras? Não, apenas estalos da madeira. Caminho até o jardim e comtemplo o regar do céus. Um leve arrepio me espanta - angústia. E recordo-me do que um velho mestre havia me ensinado: “A angústia é uma estranha e desconfortável visitação, ela aparece sem ser convidada. Deve-se ficar com ela, recebê-la e ouvi-la no seu chamado”.

Aceito então o estreitamento no peito e não fujo nem me distraio. Então, o desvanescer dos sentidos - vazio. Alguns minutos depois e ela vai embora - serenidade.

Uma clareza me convoca à estranhos pensamentos. Devo aceitar minha responsabilidade, minha solidão - o eterno vir a ser, e a condição de finitude. Assim o homem se torna livre. Luzes e pequenos flashes ofuscam meus olhos: fluidez, instabilidade e mesmo a ausência de respostas deixam de ser opressores para mim -agora a abertura para a vida plena.

Se o ser humano não é pronto e determinado - ele pode se determinar. Está destinado a isso mas, se não aguenta o peso da culpabilidade e da solidão – foge. Para onde? Para o conforto da massa, para a alienação da multidão.

Se a vida parece absurda e sem sentido, o ser humano pode para ele construir um sentido. Se a vida não oferece certezas, oferece infinitas possibilidades. Está na hora. É preciso escolher a si mesmo, é preciso decidir me encontrar, me conquistar, fazer minhas próprias escolhas, correr meus próprios riscos, encontrar amparo e segurança em mim mesmo, conhecer-me em profundidade, assumir total responsabilidade pela minha própria existência. Volto a lembra-me de meu mestre: - "A angústa meu querido, é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faz o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda"... (Tiago Villano)