Zigue-Zagueando... (T.Villano)



Não quero nada... sou todo ausência! Esvaziei-me de fé, de desejos e tentações...
Sou de um amor encantado, que engolido por um sapo espera o princípe morrer para tocar fogo em todo seu reinado. Vim de muito tempo atrás. Eu vi o nascimento das estrelas e vi o mar ficar prenhe nas espumas brancas de suas ondas... Nasci do zigue-zague das certezas. Fui gerado da loucura dos gênios, onde a lucidez estuprou a razão - no manicômio clandestino dos que nunca foram, nem serão.


Aqui sem a loucura não é possível sobreviver. Eu vejo pessoas que enganado a lucidez, tornaram-se animais de carga, carregando fardos, regras e entulhos por pura imposição - e sem questionar caminham de cabeças baixas. Vejo pessoas abandonadas ao vício das paixões, dos entorpecentes, da bebida e da comida na tentativa em vão, de tapar o apito do assombro que a angústia dá e também recolhe. Alguns já nem conseguem dormir, outros não suportam o silêncio. Não conseguem receber o abraço do ócio e então, o trabalho, as viagens e as compras se tornam compulsão - avidez por novidades.


Não veêm nos filhos a chegada (alethéia) e ainda querem lhes impor suas regras sobre a vida, deixando de acolher um novo modo de ser. Encontram explicações e teorias que forçam a capacidade de abertura. Teoria e explicação: são coisas que não são, mas a gente finge ser para saber como seria. Alguns, respodem positivamente. Outros, ainda dizem: "Vejam eles (os outros), eles estão sempre bem! E eu? Não consigo me enquadar, o problema deve ser eu! Eu tenho isso, eu devo aquilo, o que vou ser na vida?" Caem então, na sedução do mundo instituído e enlouquecem sem a raíz, que acolhida pela terra brotará para os céus - o mistério incompreensível do Infinito.
A
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Mas, aqueles que sabem, sabem do que? Sabem de que não se trata de absolutamente Nada, comunicam-se com a floresta, os bichos e a longa noite. Lá, tornam-se forasteiros iluminados, acolhem o sentido das coisas, o desabrochar da verdade em suas brincadeiras de velar e des-velar. Na inospitabilidade, fundem-se e aceitam a sua vocação, o chamado para longe. Eles assim, se tornam verdadeiramente humanos e compreendem mais tarde, o homem-máquina vestido de seus vários títulos - que ainda pela razão, busca desesperado a Grande Expicação. Mas, a inteligência matemática incapaz de compreender suas lacunas, constrói para si estatísticas, eliminando aqueles cujo o estudo não lhes interessa.
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O soco na boca do estômago e a insegurança da ausência de amparo, traz para si a certeza enganosa das idéias absolutas - explicadas pela encobertura da intencionalidade. O que só se pode na experiência, esvaziados de conhecimento, descobrir pela levitação das idéias - o grande Sagrado da Existência - A VIDA. Pura doação e ao acaso gratuita. O milagre na ponta do nariz. A angústia que brota do sorvedouro da existência, que do aperto no peito nos diz: Eis-me aqui!

2 comentários:

  1. Olá Tiago, eu gostei muito do seu blog (li outros textos, apesar de só estar comentando este). Concordo com o que você diz. A sociedade impõe demasiadas regras às pessoas, sobre o jeito que devem ser ou sobre seu modo de agir. Criam-se muitas expectativas que nem sempre correspondem à realidade, e muitas pessoas acabam perdidas num imenso vazio, do qual tentam fugir desesperadamente, sem compreender a raiz do problema: a falta de aceitação de QUEM REALMENTE SÃO. Não significa que saibamos totalmente quem somos (rs), volta e meia mudamos, nos surpreendemos com nós mesmos ( essa questão de "ser" é demais profunda...), mas pelo menos todos deveriam se sentir autorizados (por si mesmos) a seguir suas próprias inclinações.
    Continue escrevendo, os textos estão bem legais. ^_^
    Abraço.

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  2. PS: A propósito, encontrei o seu blog quando estava pesquisando no Google em que lugares (além do meu blog) eu encontraria o poema "O mundo estava no rosto da amada", do Rilke (que gosto muito). O seu blog é um dos primeiros que aparece na lista. ^_^

    Para você, o epitáfio do Rilke, escrito por ele mesmo: "Rosa, ó pura contradição, alegria/ De ser o sono de ninguém sob tantas/ Pálpebras."

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