Eterno Retorno

Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser.
Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser.
Tudo se desfaz, tudo é refeito; e
ternamente fiel a si mesmo permanece o anel,
Eternamente constróí-se a mesma casa do ser.
Tudo se separa, tudo volta a se encontrar; do ser.
Em cada instante começa o ser; em torno de todo o "aqui " rola a bola "acolá ".
O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.


(NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra, "0 convalescente", § 2).


O conceito do Eterno Retorno nos remte a um questionamento sobre a vida: na existência escancarada de cada ser, amamos ou não amamos a vida? Se tudo torna e retorna - o gozo, a dor, a angústia, criação, destruição, alegria e tristeza, saúde, doença, bem e mal, belo e feio… tudo vai e tudo retorna... Se tudo isso volta sem nenhuma ordem ou ciclo — isto é divino ou maldito? Amamos a vida a tal ponto de desejarmos ela, infinitas vezes sem fim? Vivendo todos os nossos ocasos, bandições e decepções com a mesma intensidade? Seríamos capazes de amar a vida que temos - a única vida que temos - a ponto de querermos vivê-la sem a menor alteração, infinitas vezes ao longo da eternidade? Temos tal amor ao nosso caminho?

Todas as coisas que parecem ser antagônicas. Ou seja, todos os opostos na realidade não se opõem, mas são faces de uma mesma realidade. Um complementa o outro, são continuidades de apenas um jogo. Alegria e tristeza são faces de uma única coisa experienciada em diferentes graus. O retorno de tudo não se reporta a uma demarcação temporal cíclica e exata, mas às nuances de vivências que se complementam e dão o colorido da vida.

O devir não ocorre exatamente igual, são variações de sentidos já vivenciados. O que ja senti de bom e de mal, não serão iguais amanhã, mas voltarei a experimentar esses estados em diferentes variações...

Então, se tudo retorna - será que queremos mesmo viver à eternidade onde nada de novo irá acontecer além de vivências com nuances variadas de uma mesma realidade?
Só você pode responder a essa pergunta, ninguém pode fazer isso por você. Lembre-se: uma resposta lógica, pronta e acabada não faz sentido. Há de remoer e buscar nas entranhas da angústia e nas portas do desespero reflexões fecundas, prenhes de insights...

Temos tal amor ao nosso caminho? Aos destinos que trilhamos? Sou Autor de minha vida? Escrevo ela com minha carne e meu sangue? Ou outras pessoas escrevem p/ mim, tornando-me mero ator ou coadjuvante? Sigo meu caminho ou ando por trilhas já trilhadas?

É hora de criarmos novos valores, e irmos p/ uma reformulação total de ideais...

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